Inovação Aberta além da “modinha”: como colaborar com parceiros sem perder o rumo estratégico?

Em minhas andanças por aí, tenho observado, cada vez mais, que muito tem se falado a respeito da Open Inovation (Inovação Aberta), mas ainda são poucas as empresas que a tratam como uma estratégia contínua, integrada e conectada ao seu plano de crescimento.

Muitas vezes, o movimento se resume a parcerias isoladas com startups, criadas mais para mostrar inovação do que para realmente transformar. A questão é que a Inovação Abertavai muito alémdisso… 

Leia também: Inovação Orientada para o Cliente: como a P&D pode elevar a experiência do usuário e o sucesso do produto?

O que é a Inovação Aberta? 

A Inovação Aberta consiste em estabelecer parcerias verdadeiras, estratégicas e diversas, que ampliam as possibilidades de inovação ao integrar competências externas — sejam elas de universidades, institutos de pesquisa, hubs, fornecedores ou mesmo de outras organizações do setor.

Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, essas conexões não substituem o esforço interno, mas o potencializam. Quando bem direcionadas, podem acelerar o desenvolvimento de produtos, facilitar acesso a novos mercados e gerar soluções que dificilmente seriam criadas dentro dos limites de uma só organização.

Inovação aberta vai além das startups…

Já percebeu como, sempre que falamos nesse assunto, a primeira coisa que vem em mente são as startups? Claro que as startups têm, sim (até por conta da própria natureza desse tipo de negócio), um papel importante por conta da agilidade e da capacidade de testar ideias com menos burocracia. Todavia, penso que limitar a Inovação Aberta a elas, acaba por ignorar a potência de redes mais amplas.

Parcerias com universidades (como a PUC, via Hotmilk), coworkings voltados à inovação (como o NEX Coworking), institutos tecnológicos (como o LACTEC e o C.E.S.A.R) e plataformas globais como a Plug and Play têm demonstrado que Inovação Aberta se faz com inteligência relacional e foco estratégico.

Solução complementar e estrutura interna dedicada

A Atlas Eletrodomésticos é outro bom exemplo: a companhia, que tem fábrica no Paraná, investiu em uma empresa de financiamento para lojistas que compram seus próprios produtos — criando uma solução complementar ao seu negócio principal. 

A RD Saúde, por sua vez, montou uma estrutura interna dedicada exclusivamente a mapear e integrar inovações externas. Ambos os exemplos evidenciam que estamos falando de movimentos os quais apontam que inovar fora dos muros não é desvio de rota — é parte do caminho.

Qual é o impacto da Inovação Aberta? 

De acordo com o relatório “State of Open Innovation”, da Capgemini, 80% das empresas que adotam práticas consistentes de Inovação Aberta relatam aumento significativo na geração de novos produtos e receitas

Segundo o estudo, o impacto está, justamente, em abrir a estratégia para o mundo — com responsabilidade, método e abertura para aprender com o ecossistema.

Como implementar a inovação aberta: um passo a passo prático

Para quem quer deseja começar no universo da Inovação Aberta, compartilho um roteiro baseado em prática:

1. Entenda o conceito com profundidade

Inovação aberta é sobre construir soluções com o ecossistema. Não se limita a startups, nem se resume a patrocinar um hackathon.

2. Mapeie seu ecossistema

Quais hubs, institutos, universidades e comunidades estão trabalhando inovação no seu setor? Identifique, se aproxime e escute.

3. Reflita sobre suas dores e objetivos

Quais problemas você quer resolver ou quais oportunidades quer explorar? Isso define o tipo de parceiro ideal.

4. Escolha por onde começar

Testes controlados com startups, editais com institutos, eventos com universidades. Comece com foco e aprenda no caminho.

5. Adapte seus processos internos

Startups não funcionam como fornecedores tradicionais. Prepare seus processos jurídicos, financeiros e operacionais para essa relação.

6. Formalize quando fizer sentido

Nem toda parceria começa com contrato. Mas quando o valor começa a surgir, defina escopo, responsabilidades e metas claras.

Inovação Aberta para pequenas e médias empresas

Embora a Inovação Aberta seja frequentemente associada a grandes corporações, seu potencial para pequenas e médias empresas é enorme — e também pode ser transformador. Ao se conectarem a ecossistemas de inovação, como os promovidos pelo Sistemas S ou hubs regionais, essas empresas podem acessar conhecimento técnico, tecnologias emergentes e parcerias que antes pareciam distantes ou inviáveis.

Aqui, uma dica: em vez de investir alto em estruturas internas, as PMEs podem testar soluções em menor escala, com apoio externo, e ganhar competitividade sem comprometer o foco no core business. Nesse contexto, a Inovação Aberta se torna uma pontepara crescer com mais inteligência, adaptabilidade e conexão com o mercado real.


Livro do especialista Henry Chesbrough demonstra como empresas líderes globais abriram suas fronteiras para transformar suas estratégias de inovação.

Prepare-se para os ciclos — e para o desconforto

Inovar com parceiros exige, além de abertura externa, determinada maturidade interna. Em minha experiência como consultor, observo que muitas empresas ainda carecem de processos preparados para operar com startups ou lidar com prazos de universidades e institutos. E muitas não estão dispostas a aceitar que a Inovação Aberta envolve riscos — e também frustrações, o que faz parte do processo.

Caso você queira se aprofundar nesse tema, recomendo o livro “Open Innovation” de Henry Chesbrough, um dos principais estudiosos sobre o assunto. A obra é um marco por mostrar como empresas líderes globais abriram suas fronteiras para transformar suas estratégias de inovação.

Outra boa dica é a palestra de Charles Leadbeater no TED Talks, intitulada “A Era da Inovação Aberta” (veja o link no comentário deste post), onde o pesquisador do think tanklondrino Demos explora como a colaboração e a criatividade coletiva estão transformando a forma como inovamos.

No fim das contas, a pergunta mais relevante não é se a sua empresa deveria apostar em Inovação Aberta. A grande questão é: quanto tempo mais ela vai conseguir crescer sozinha?

Até a próxima!

Rafael de Tarso

Professor, palestrante e especialista em inovação e transformação digital.

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